5 de janeiro de 2021 às 00:07
O ano de 2020 foi marcado com a entrada de mais de 3,9 milhões de novos investidores na bolsa de valores brasileira, a B3, até outubro de 2020, o que representou uma verdadeira aula de resiliência financeira.
Apesar dos percalços do mercado financeiro, como taxa de juros em mínimas históricas, os novos investidores entraram em um fluxo quase que natural na aplicação do seu dinheiro, a busca de melhores rentabilidades e para muitos a bolsa de valores foi nesse ano a solução.
No primeiro trimestre, passamos por vários circuit breakers, mecanismo que paralisa as negociações devido a quedas abruptas, devido à crise mundial causada pela pandemia do novo coronavírus. A negociação do futuro do petróleo com a cotação negativa e os ativos ditos como “super” seguros apresentaram expressivas rentabilidades negativas em determinados momentos ilustraram esse cenário de volatilidade no mundo todo.
Neste período que ficamos em isolamento social, a digitalização veio à tona mais do que nunca. Por consequência, a expansão das redes sociais popularizou a figura dos influenciadores que se dedicam a falar sobre investimentos pessoais. Alguns destes canais, como Instagram e Youtube, chegam a atingir números na casa de milhões de seguidores e não é difícil encontrar canais novos com milhares de seguidores ávidos por informações do mercado financeiro.
Porém, existe uma diferença entre o profissional do mercado devidamente certificado para o influenciador – essa linha tênue nem sempre é visível, por isso, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tem prestado esclarecimentos sobre as situações em que o registro é obrigatório, a exemplo da instrução CVM 598 e o ofício-circular 13/2020, esse último recentemente publicado.
Nesse movimento e esforço de educação financeira, a orientação ao consumidor para que ele saiba identificar golpes, a CVM e Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros (Anbima) lançaram o portal “Se Liga na Fraude”.
Muitos investidores iniciantes, por serem influenciados de maneira rápida ou até pelo velho inimigo do investimento bem feito, a busca por ganhos rápidos, são motivos que levam a optar pela operação de day trade. O investidor iniciante que quer desbravar essa forma de ganhar dinheiro no mercado financeiro tem que, antes de qualquer informação, ter a clara ciência sobre os riscos.
Uma comparação para fácil entendimento, mas muita válida no país do futebol, é que a quantidade de jogares de futebol que sonham com viver com o esporte é, no Brasil, enorme, porém quantos realmente chegar a patamares almejados? E chegam a ser um “Neymar”? Raríssimos. Essa mesma comparação pode ser usada para traders de renda variável, não é impossível “apenas” é extremamente difícil chegar ao pelotão raro de traders que chega a mudar de patamar financeiro pelo day trade.
Eu, particularmente, opero day trade raramente e conheço diversas pessoas extremamente competentes que operam ou operaram day trade de forma constante, poucos financeiramente sobreviveram e posso contar nos dedos quem realmente teve sucesso.
O principal mito em torno do day trade é o enriquecimento rápido de forma fácil a ser aprendida, a realidade é bem diferente disso. Operar day trade de forma consistente necessita de estudo, perfil e tempo. Portanto, para os incautos vale buscar mais informações, para os ansiosos vale repensar essa forma de operar, para os apressados devem desacelerar e para os superdeterminados e dispostos a tomarem alto risco, vale começar com um patrimônio pequeno e boa sorte!
*Daniel Abrahão é assessor de investimentos e sócio da iHUB Investimentos, escritório de assessoria de investimentos credenciado à XP
Link da matéria: https://diariodocomercio.com.br/opiniao/retrato-do-day-trade-em-2020/